15 de dez. de 2009

parceria no campo e na mesa

Desde a década de 50, a agricultura familiar foi suplantada pela industrial nos Estados Unidos. Quem já viu o vídeo Meatrix tem uma ideia do que esse tranformação acarretou para o meio ambiente, para a qualidade do alimentos e para a nossa saúde.

Uma porção de gente que tinha seu quinhão de terra e produzia frutas, verduras, legumes, que criava a bicharada livre, leve e solta não teve outra saída senão se mandar para as cidades ou mudar de atividade. Explosão demográfica na urbes e a herança rural escoado pelo ralo.

Quase 50 anos depois, nasce um movimento de retomada da agricultura orgânica famliiar. É o Community Support Agriculture (CSA), um programa que nasceu da inciativa de gente atenta a qualidade de vida do planeta e cansada de se entupir de alimentos de péssima qualidade nutricional. O que a comunidade faz? Apóia a agricultura orgânica. Como? Pagando uma taxa anual diretamente ao produtor. Com a grana, ele dá o start na produção - compra sementes, equipamentos, material, etc. E o "investidor" recebe uma parte de tudo que é colhido na estação. Na safra da abobrinha, é abobrinha que não acaba mais. Um amigo de São Francisco faz parte do programa, por acreditar na mudança sócioambiental que o CSA promove por lá. Mas também ouvi dele uma ligeira reclamação da "mesmice" de alimentos durante certa época do ano. "No tempo do tomate, a geladeira fica forrada do fruto. Você precisa ser muito criativo e inventar pratos diferentes com o mesmo produto", contou Chris.

Isso me fez pensar como estamos desacostumados com os ciclos naturais. Porque a gente vai no mercado e encontra manga em pleno inverno! E outras esquizitices do gênero. Então o CSA é uma maneira de conectar o homem da cidade ao campo e a sua gente, de ofereer uma vida digna ao agricultor e ficar tranquilo com a origem e qualidade do que você leva pra sua mesa. Não é preciso esperar nenhuma empresa ou governos para dar o primeiro passo em direção ao mundo que queremos viver.

5 de out. de 2009

Pequenas iniciativas mudam o mundo

Escrevi essa matéria, intitulada "Aqui no meu quintal", para a edição de setembro da revista Página 22, e conto como pequenas iniciativas afinadas com a consciência global dão grandes resultados em seus círculos.

A casa da minha amiga Tereza e sua família em Wahgarei, NOva Zelândia, foi construída com a ajuda de amigos. As paredes, prontas em duas semanas, são feitas de cimento, cascalhos e pequenas pedras, compactadas com ferramenta hisdráulica


Aos 31 anos, decidi me presentear com um ano sabático pelo mundo. Era maio de 2008 e a crise financeira mundial estava se aquecendo, até explodir em setembro. Mas, na cabeça desta viajante, isso não afetaria a jornada em busca de novas experiências (e um batalhão de respostas). O que vi no período em que morei na Costa Oeste dos Estados Unidos e na Nova Zelândia foi uma porção de gente inventando soluções próprias e criativas para atravessar um período de incertezas e dificuldades.
Algumas das histórias aqui relatadas não têm a pretensão ou a ingênua intenção de “salvar o mundo”, ao contrário, podem ser um laboratório de experiências ligadas ao contexto local e têm causado impacto positivo nos pequenos círculos em que se dão. Sob esse olhar, é possível afirmar que são grandes soluções.
O país mais motorizado e industrializado do mundo foi também o epicentro da crise. A instabilidade financeira e ambiental, o desconforto com guerras por petróleo e os grandes congestionamentos fizeram com que habitantes de cidades metropolitanas, como San Francisco e Nova York, deixassem o carro na garagem para usar a boa e velha bicicleta, um transporte limpo, barato, saudável e que promove a sociabilidade. De fato, a cultura da bicicleta tem crescido no país, principalmente entre os jovens, que amadurecem num momento em que um novo american way of life emerge. Festivais, conferências, filmes, grupos de música, lojas, oficinas mecânicas e ativismo em torno da “magrela” pipocam por lá.
San Francisco, na Califórnia, é a meca dos bike messengers, entregadores de produtos e documentos que circulam por toda a cidade com rapidez e destreza sobre duas rodas, driblam o congestionamento, ganham grana e incentivam outros jovens a adotar esse trabalho como estilo de vida. Isso desde 1945, quando surgiu a primeira prestadora desse tipo de serviço. Lá, há mais procura do que vagas. Os bike messengers formam uma categoria profissional, uns com contratos autônomos e comissões sobre entregas feitas, outros com registro e benefícios trabalhistas.
Seja um bike messenger, seja um ciclista de fim de semana, em alguma hora é preciso encostar a bicicleta para um ajuste, um conserto, um up no visual. Na terra do faça-você-mesmo, encontrei oficinas que ensinam você a sujar as mãos com a sua magrela.

A The Bike Kitchen, eleita a melhor oficina de San Francisco, oferece ferramentas para consertar pneu furado, regular o freio, ajustar as marchas, aprender a altura certa do selim. E seguem a cartilha da conservação: exceto cabos de freio e câmaras de pneu, nada é vendido na Bike Kitchen, e todas as peças são sobras em bom estado doadas por grandes lojas de bicicletas – e que certamente seriam descartadas na sociedade superconsumista americana. Os produtos usados para remover a graxa não contêm substâncias químicas: são feitos à base de casca de laranja. A oficina é uma cooperativa mantida por gente apaixonada por bicicletas que sabe que, para aumentar a quantidade de ciclistas nas ruas, é preciso espalhar o conhecimento sobre as magrelas.
É impressionante a quantidade e a diversidade de cooperativas na Califórnia, no Oregon e nas cidades grandes neozelandesas, como Auckland e Wellington. Por lá, o conceito vai além da organização profissional autônoma. As cooperativas são comunidades de pessoas que querem se juntar em torno de objetivos comuns, e a sustentabilidade financeira é apenas um deles. Têm como missão criar ambientes democráticos de trabalho, e adotam práticas que realmente fazem sentido para quem trabalha lá.
É recorrente o cuidado ambiental na operação do negócio – organização do lixo, uso de produtos de limpeza “verdes”, prioridade para iluminação e ventilação natural -, afinal, os “donos” estão lá todos os dias e, por isso, dão importância à própria saúde e à do planeta. Eles fazem de tudo, desde limpar os banheiros até assinar cheques de pagamento. Como é um negócio que não precisa remunerar investidores e os custos não são altos, sobra dinheiro para oferecer salários melhores, e preços mais convidativos ao consumidor. E ainda fortalecem a economia local e os laços sociais entre a comunidade e os cooperados, que muitas vezes preferem morar na região.
Uma cooperativa chamou a atenção: o supermercado Rainbow, Grocery Coop, em San Francisco, onde passei tardes inteiras me familiarizando com a imensa variedade de produtos, observando como os “sócios” se organizavam durante o trabalho e como atendiam os clientes. Encontrei ampla variedade de produtos a granel, com o melhor preço da cidade: cereais de todos os tipos, ervas e chás, massas, achocolatados, snacks, 30 tipos diferentes de farinha, grãos que vão do básico arroz integral ao andino amaranto, óleos, frutas secas, molhos, cafés fair trade, produtos de limpeza, cosméticos. Quase tudo orgânico e manufaturado localmente por produtores independentes! Toda vez que o consumidor traz embalagens de casa, recebe crédito de 5 centavos de dólar em troca de cada uma, por não usar recipientes novos e reutilizar os que já tem.
Foi curioso ver pessoas se agregando em comunidades, de forma voluntária e autônoma, em um ambiente que historicamente favorece o individualismo: a grande cidade. Em geral, hortas comunitárias e fazendas urbanas surgem da necessidade de se fazer uso das áreas públicas e privadas ociosas de forma mais construtiva e perene, ao mesmo tempo que se buscam justiça social, recuperação ambiental e reeducação alimentar.
Esses espaços verdes reconfiguram as urbes – onde os ciclos e fluxos da natureza parecem que nunca existiram (e a gente acha que isso é normal) – e quebram a dicotomia de que o campo produz o alimento e a cidade apenas o consome e descarta. Uma visita a Alemany Farm, em San Francisco, quebrou, de fato, meus conceitos sobre o que é verde, o que é cinza.
Essa fazenda urbana nasceu em 1994 com o objetivo de melhorar as condições dos moradores de 165 habitações populares no bairro de Alemany, por meio do plantio e manutenção do espaço. Em sua origem, combinava treinamento profissional com educação para fazer da agricultura urbana uma via de oportunidades econômicas e educativas. O projeto de segurança alimentar resolveu o problema da má nutrição nas famílias, ao passo que tornou a comunidade mais unida e segura. Funciona na base do voluntariado e é referência em aprendizagem prática de horticultura e paisagismo.
A cidade de San Francisco possui cerca de 50 jardins comunitários e em cada um se desenvolve um projeto coerente com a realidade local – uns têm enfoque educativo, outros dão atenção à produção de mudas, à área recreativa infantil. Todos têm canteiros individuais e encontros comunitários. Cada jardineiro paga uma taxa anual de US$ 25 por seu pedacinho de terra, uso de ferramentas, adubo e água e compromete-se a mantê-lo produtivo. Cultiva-se o que bem desejar: hortaliças, flores, frutas, legumes, ervas medicinais, mel de abelhas.

Na Nova Zelândia, as hortas comunitárias são levadas mais ao pé da letra: os canteiros são de todos e as pessoas se encontram para trabalhar em conjunto. Alguns promovem feiras para vender o excedente, e os ganhos vão para a caixinha do jardim, para a compra de ferramentas, sementes etc.
Na época da Segunda Guerra Mundial, San Francisco contabilizava cerca de 70 mil jardins residenciais. O movimento ficou conhecido como Victory Gardens, jardins da vitória, uma alternativa em tempos de escassez. Esse apelo é atualíssimo. Um casal americano colocou na ponta do lápis quanto custa a horta que mantém no quintal. Em um ano, eles colheram 400 quilos de legumes e verduras (mais de um quilo por dia) e economizaram US$ 2 mil ao deixar de comprar os produtos nos mercados locais. A Associação Americana de Jardinagem estima que US$ 50 gastos em sementes podem render US$ 1.250 por ano.
É o que a educadora Penny Vos faz em Waiheke, na Ilha no Norte da Nova Zelândia. Em parceria com o marido, ela mantém um pequeno negócio de mudas de verduras em casa, a Love Earth Plants, que comercializa na feira local, aos sábados. Penny acredita que pode incentivar mais pessoas a cultivar hortaliças com mais sabor, melhorar a saúde física e mental e ajudar a reduzir a emissão de poluentes gerada no transporte de alimentos. E também está de olho nas notícias que indicam que esse tipo de negócio aumentou 40% no ano passado, com crescimento maior em sementes de vegetais que são básicos por lá, como pimentões, tomates e ervas, e podem ser cultivados em pequenos vasos dentro dos apartamentos.

Penny e seu companheiro, Kamalesh, e o pequeno negócio de mudas: a banquinha está pronta na feira da comunidade aos sábados
Mas nem todo mundo está disposto a ficar nas cidades. Existe um movimento de jovens entre 18 e 35 anos para virarem fazendeiros. Carregam diplomas pós-universitários, geralmente são do sexo feminino, cresceram em grandes metrópoles, e de vez em quando trabalham como educadores, empreendedores sociais, yoguis, jornalistas, videomakers, ativistas. São apaixonados por suas causas, têm um espírito aventureiro, estão atentos ao movimento da sustentabilidade e empenhados na construção de comunidades.
Cara Saunders (sua história está no post anterior), uma mulher de 32 anos nascida em Chicago, mudou-se para o extremo norte da Califórnia para cultivar ervas. Ela mora no meio das montanhas nevadas na companhia do namorado, de 20 galinhas, duas cachorras e nenhum fio de energia elétrica. É nesse lugar de ar puríssimo e beleza formidável que Cara planta, de modo sustentável, todas as ervas medicinais com que faz, artesanalmente, tinturas e pomadas, usando como base cera de abelha, óleo de oliva e álcool de uva orgânicos. A energia do laboratório é solar e todo o processo de maceração das ervas, manual.
A Bear Wallow Herbs tem cinco anos e há pouco tempo a receita com a empresa superou os custos com as despesas domésticas. O produto mais vendido é o kit de primeiros socorros, com sete medicamentos para os mais diversos tipos de enfermidades.
Cara trabalha meio período no correio do lugarejo – o único estabelecimento comercial da localidade. É de lá que mantém suas vendas pela internet e despacha encomendas mundo afora. Também participa de feiras e festivais na região – que se estende desde a cidade de Portland até San Francisco -, onde vende seus produtos, divulga o negócio, faz contatos, revê amigos, curte um show, vai às compras e fica com saudades de casa.
E, por falar em saudade, regressei a São Paulo. Depois de ver como pessoas em algumas partes do mundo estão se organizando para transformar o lugar onde vivem, é inevitável o choque ao encarar uma megalópole tão carente de soluções desse tipo. Mas é desse encontro de diferentes que nasce uma nova percepção de quem sou e do que posso fazer pelo lugar que chamo de casa.

18 de set. de 2009

Aprendiz de herbalista


Minha última aventura antes de voltar pro Brasil foi também uma lição prática do que são esses tais de green economy e green job e finalmente, como é um modo de vida sustentável e saudável.
Por um mês, fui aprendiz de herbalista, no meio da floresta californiana. Conheci Cara Saunders durante um workshop que ela deu sobre ervas medicinais, realizado numa fazenda em plena cidade de São Francisco. Me ofereci para ser sua assistente e ela topou. Combinamos de trocar trabalho por casa, comida e roupa lavada e um monte de aprendizado prático. Acertados alguns detalhes, consegui uma carona e lá fui eu pra Sawyers Bar.

A localidade fica no norte da Califórnia, às margens do exuberante Klamath River, e foi bastante movimentada durante a corrida do ouro. Hoje, tem apenas 54 habitantes, um centro comunitário e uma agência do correio. Qualquer mercado, café ou posto de gasolina fica a uma hora e meia de lonjura, depois de uma serra linda e perigosa.
Minha anfitriã vive no meio da floresta com o namorado Boone, nativo dali. Não há um fio de luz elétrica, como todas as casas da localidade, muita lenha e neve grossa no inverno. Eles criam 20 belas galinhas, um peru selvagem, duas labradoras, tem uma horta generosa com aspargos, repolho, feijão, alho, cebola, tomate, alface, cenoura, beterraba, batata, nabo, tantos outras verduras e legumes, tem árvores frutíferas e um jardim de ervas muito bem cuidado. Boone herdou tudo dali: é serrador, como o nome da cidade sugere (sawyer), minerador de ouro, conhecedor da mata. Cara tem 32 anos, nasceu em Chicago e mudou-se para o extremo norte da Califórnia para cultivar ervas.




É nesse lugar de ar puríssimo e beleza formidável que Cara planta, de maneira sustentável, todas as ervas medicinais com quem faz, artesanalmente, tinturas e pomadas, usando como base cera de abelha, óleo de oliva e álcool de uva orgânicos. A iluminação do laboratório é solar e todo o processo de maceração das ervas é manual.
A Bear Wallow Herbs tem cinco anos e há pouco a receita com a empresa superou os custos com as despesas domésticas. O produto mais vendido é o kit de primeiros socorros, com sete medicamentos para os mais diversos tipos de enfermidades. Cara trabalha meio período no correio do lugarejo e é de lá que mantém suas vendas pela internet e despacha encomendas mundo afora. Também participa de feiras e festivais na região, - desde a cidade de Portland até São Francisco - onde vende seus produtos, divulga o negócio, faz contatos, revê amigos, curte um show, vai às compras e fica com saudade de casa.
Morei por um mês numa cabana de madeira com lareira e banheiro biológico ao lado.
Ajudei Cara numa sorte de tarefas: refazer o jardim de ervas e a horta depois do implacável inverno, macerar ervas, fazer pomadas e tinturas, rotular embalagens, montar kits, organizar o laboratório, fazer cartões e cartelas informativas, dar comida para as galinhas, cozinhar. Participamos de duas feiras, uma em Ashville, no Oregon, outra em Mount Shasta, um lugar muito maluco e cheio de hippies esotéricos. Fizemos caminhadas pelas montanhas, ensinei-los a fazer pão, vimos filmes, contamos piadas, falei do Brasil, trocamos muito. Nasceu uma forte amizade e uma tremenda inspiração em seguir os passos de Cara (e de tantos outros jovens) rumo a um negócio bom pro bolso, pros outros, pra alma e pro planeta.

31 de jul. de 2009

Pontes no lugar de paredes

Quando eu planejei embarcar nessa viagem de um ano, era clara a vontade de experimentar (e validar) a crença de que é possível conciliar um trabalho que a gente curte a uma vida saudável e sustentável. Pra mim essa dobradinha significava trazer um pouco da vida do campo para a cidade e vice-e-versa ao participar de uma horta comunitária, interagir com os ciclos da natureza, colher pepinos e fazer conservas, fazer adubo com o lixo orgânico, criar abelhas, construir laços solidários com os vizinhos, usar a bicicleta como o principal meio de transporte e alimentar-me de cultura, trocar com gente criativa, sentir a pulsação das ruas e exercer o jornalismo ou outra atividade que me conecta com minha vocação e valores. Embora algumas coisas sejam mais viáveis no campo e outras na cidade, eu estava disposta a encontrar experiências que quebrassem de uma vez por todas a dicotomia campo x cidade.

Alemany Farm, uma fazenda urbana mantida pela comuniade em San Francisco

Durante um ano na estrada, eu conheci muito mais pontes do que muros e agora, de volta à terrinha Brasil, vou compartilhar tudo isso com vocês aqui no blog. Meninos, eu vi uma porção de jovens americanos e neo zelandeses que resolveram ser “um urbanóide a menos” (em menção ao slogam da bicicletada 'um carro a menos') e zarparam para a área rural, na intenção de descongestionar as cidades. Vi também bastante gente REIVENTANDO o movimento hippie “back to the land” ao transformar sustentabilidade e vida saudável em negócios lucrativos e éticos. É gente que cultiva, no coração dos grandes centros, mudas de hortaliças e vende em feiras orgânicas, constrói minhocários e composteiras, fabrica móveis ecológicos, cria hortas comunitárias e até fazendas urbanas, troca produtos e serviços, monta cooperativa de oficina de bicicleta, de materiais de construção usados e muito mais. Eles estão inventando uma economia construtiva baseada no ganha-ganha: o do bolso e o do planeta.

A Bike Kitchen é uma oficina de bicileta criada no esquema de cooperativa, San Francisco

O pesquisador americano Van Jones foi atrás dessa galera e reuniu um monte de histórias de sucesso no livro The Green Collar Economy ou A economia dos colarinhos verdes - soluções elegantes para a crise financeira e ambiental. O termo green collars sugere a nova categoria de profissionais verdes que está entre os engomadinhos do colarinho branco e os trabalhadores braçais de macacão azul.

Você pode assistir a algumas dessas experiências, contadas por seus protagonistas. No vídeo "Growing Home", ou cultivando um lar, você vai ver Orrin Williams e seus colegas demonstrando como a agricultura urbana está reconectando as pessoas à comunidade e à terra e revitalizando Chicago.


Nesse vídeo, a experiência do Green Workers Cooperative, uma cooperativa de trabalhadores que criou um negócio com materiais de construção usados e uma alternativa ao saturado South Bronx, em Nova Iorque.


Vale a pena a visita ao site Green for All, criado por Van Jones, pra ver como comunidades de grandes cidades americanas estão empenhadas em transformar a economia antes dita 'alternativa' em negócios que vem diminuindo o desemprego, gerado renda, empoderado as pessoas e revitalizado os espaços públicos.

20 de abr. de 2009

Alimento da metade do mundo

Os campos de arroz estão espalhados por toda Bali. Não consigo imaginar o que seria da ilha e de sua cultura sem esses maravilhosos arrozais verdes e dourados. Foto: Edu Green

Acabo de receber um email do GreenPeace alertando para o risco iminente que o arroz, o mais tradicional dos alimentos, está sofrendo. A gigante indústria química alemã Bayer criou um grão geneticamente modificado que contém altas doses de um pesticida super tóxico que vai por a nossa saúde, nossa agricultura e a biodiversidade em risco.
Em breve, a União Européia vai decidir se o arroz da Bayer pode ir para o prato do europeu ou não. E as consequências serão mundiais. Se a medida for aprovada, fazendeiros dos Estados Unidos e de outros lugares do planeta logo logo vão começar plantar o grão manipulado.
O arroz é comida do dia-a-dia para a metade da população mundial e é cultivado a mais de 10 mil anos em 113 países. Para milhões de pessoas, o arroz não é apenas um alimento, é um modo de vida.

ASSINE A PETIÇÃO AQUI! NÃO TEMOS MUITO TEMPO!!!

Leia a notícia na íntegra, em inglês

13 de abr. de 2009

01 árvore

Será que ainda vai chegar o dia de se pagar até a respiração? Pela direção que o mundo está tomando, eu vou viver pagando o ar de meu pulmão.*

O olho encontra a seta e o entendimento é automático: uma só direção. Opa, mas tem algo estranho nessa ai! É brincadeira de Rigo 23, artista de San Francisco famoso pelos pelas mensagens irônicas em monumentais outdoors que imitam símbolos familiares. No lugar do autoritário ONE WAY, um chamado para a frágil e sobrevivente árvore em plena entrada para Highway 101, na esquina da Bryan Street com a 10th. Asfalto, velocidade e barulho pra todos os lados.
A inspiração da obra veio depois que ele escolheu a locação. No início, o pequeno eucalipto foi um obstáculo para Rigo trabalhar a parede, mas finalmente ele percebeu que a idéia era um retrocesso. Ao invés de promoverem uma única direção, as árvores são formas de vida que diversificam os caminhos, inclusive para baixo da terra e para cima da copa! Nasceu One Tree, uma das obras mais conhecida de Rigo.
Ele tem uma porção de outras espalhadas pela cidade. Mas é da prefeitura (e que qualquer ponto do Civic Center), que se consegue ver "Truth", a Verdade. Viu?



* versos da canção "Será", de Siba e a Fuloresta



2 de abr. de 2009

Se o sapato não servir, plante-o!

A Alamo Square é uma praça no alto de um dos tantos morros de San Francisco. O visual do hoizonte é lindo, com vista para a baía e prédios famosos, o bairro é patrimônio histórico com casario vitoriano super bem conservado. Mas a melhor surpresa da Alamo Square está bem no coração da praça, escondida de olhares fugazes e longínquos: o jardim de sapatos, um jardim que faz as pessoas rirem pelo inusitado, pela sensibilidade e beleza.


Mini rosas plantadas dentro dos sapatos vermelhos de bebê, cebola e salsinha em bota de cowboy, suculentas em tênis, patins com tulipas, salto alto e margaridas. Coisas que, um dia, pertenceram aos vizinhos do Alamo District, “gay, preto, branco, donos de cachorros, quem quer que seja”, diz David Clifton, o responsável pela alegria de turistas e moradores. Ele é o jardineiro da praça e também se encarrega de recolher o lixo, onde encontra sapatos - e Clifton detesta jogá-los fora. Começou a usá-los para proteger as plantas da cachorrada. Daí, mais e mais sapatos começaram a aparecer na porta da sua oficina. E assim nasceu um jardim que é a cara da vizinhança.

Vez ou outra, some um par aqui, outro ali; depois novos aparecem. Para lidar numa boa com a natureza humana, só tendo mesmo um sentimento e olhar sinceros sobre vida urbana e tolerância. E ele os tem.

O jardim de sapatos é popular no bairro. Moradores trazem visitantes, as crianças correm pra lá e pra cá, as pessoas descansam nos bancos feitos de tora caídas, as risadas preenchem a praça. É curioso ver que as pessoas respondem a um tipo de beleza que normalmente a gente não chama exatamente de belo. O jardim de sapatos é o lugar onde o belo está justamente em dar dignidade a essas coisas que a gente chama de velho e joga fora.

20 de mar. de 2009

Fios da vida


Meu sangue árabe borbulhou diante de tanto tecido nos mercados tradicionais de Bali (toda cidade tem um). Essas obras de arte estão em todos os cantos: pendurados na frente das “lujinhas”, empilhados nas mesas, enrolados nos corpos dos balineses. Em indonésio, mercado eh “pasar” e vem do árabe baazar. Empolgada por estar na terra do Batik (estampa feita com cera e aquarela) e do Ikat (tecido feito com fios desenhados e tingidos artesanalmente), meu impulso era sair comprando, comprando, e a preço de banana. Foi quando, subindo uma das ruelas de Ubud, conheci a Threads of Life – fios da vida – uma organização metade gringa, metade balinesa, que apóia a continuidade da tradição da arte têxtil indonésia.
Em seus motivos e usos cerimoniais, os tecidos têm significados profundos que sustentam a cultura do povo através dos séculos. O batik balinês celebra as cores e flores da Ilha dos Deuses. O batik de Java é repleto de padrões geométricos que refletem a influência árabe e fazem bonito nas cerimonias. O ikat duplo é a coisa mais intricada e intrigante que eu já vi - leva mais de um ano pra ser feito e é usado em rituais super importantes, como casamento e dote da mocinha. A tradição têxtil molda a vida das pessoas, dá prestígio e identidade a uma vila.
Bom, e daí, como todo mundo sabe, vem o trator chamado mercado, a produção em massa, a migração do campo para as cidades. As pessoas param de plantar as árvores que dão a tinta vermelha, o intenso índigo, param de fiar o rústico algodão, produzem uma ou outra peça por ano e não raro vendem essa relíquia a preço de banana para o turista, que muitas vezes não sabe o que tem em mãos nem o impacto que a venda do tecido tem na comunidade – os tecidos são sagrados e devem ficar ali! A Treads of Life entra em cena para mostrar que a tradição tem seu valor no contexto global e moderno. O resgate do uso de tingimentos naturais e da tecelagem artesanal e a segurança de um lugar justo no mercado (a Treads faz parte da rede de comércio justo) restaura o orgulho de ser tecelão, fortalece a cultura e assegura que a vida continue a brilhar.
Na Treads você aprende como o Ikat é feito, enche os olhos com tecidos de várias partes do pais e encontra pessoas que celebram a sabedoria indígena, o senso de comunidade e de pertencimento ao lugar de origem e estão a fim de ajudar a manter o espírito das artes têxtis da Indonésia. Adivinha se eu não bati cartão por lá?

4 de mar. de 2009

Balde pela metade: cheio ou vazio?

A economia balinesa tem se pendurado cada vez mais no turismo, sugando as riquezas naturais e afetando a paisagem e o vai-e-vem de indonésios e vizinhos asiaticos que aumentam o adensamento da ilha em busca de trabalho. Um dos passeios mais gostosos de Bali é pelos arrozais espalhados. Eles estao por todos os cantos da ilha e há quem diga que são os mais fotogênicos do planeta. Bali já viveu uma época áurea quando o arroz regia a vida das comunidades. Hoje, 15% da ilha, ou 83 mil hectares, é área inundada para a plantação do cereal, uma produção de 800 mil toneladas ou 500g para cada balinês por dia. No entanto, todos os dias, Bali perde de 1 a 3 mil hectares de campos de arroz por falta de água ou por conta do avanço imobiliário. Para produzir 1 kg de arroz são necessários mil litros de água. Num hotel cinco estrelas, gasta-se de 1,5 mil a 4 mil litros de água por quarto por dia; numa hospedaria modesta, 400 litros, e 80 litros por dia por pessoa numa casa balinesa. Sentiu o drama?
Tenho me hospedado em homestays, pequenos chalés dentro do terreno da família, onde é possível compartilhar o modo de vida simples e alegre dos locais. Alguns têm chuveiros e todos têm um baldão cheio de água e uma canequinha, que serve para fazer meio banho ou lavagem completa. Não tinha experimentado o banho de baldinho (como nos tempos de criança na casa da vovó), até chegar na Casa de Crianças Yayasan Narayan Seva, um projeto da Ananda Marga que recebe a molecada como uma família. A hora do banho eh diversao garantida. A criançada se ensaboa ao ar livre no esquema baldinho, faz a maior festa e na sequência ainda lava a roupa que usou no dia. É claro que eu embarquei na onda e fiquei feliz com o resultado: um balde de 5 litros foi o suficiente para eu ficar limpinha e cheirosa. Aí, alguém pode dizer que isso nada mais é do que a face da pobreza, da falta de recursos. Bem, a gente pode ver o copo com metade de água como cheio ou vazio. Para mim, o banho de baldinho é o bom uso dos recursos, limitados sim, para o pobre, para o rico, para todos os terráqueos.

19 de fev. de 2009

Deuses não digerem plástico


Viajar para lugares tão distintos como Estados Unidos, Nova Zelândia e Indonésia é, de fato, um baita choque cultural, principalmente em relação aos temas de sustentabilidade. Minha primeira semana na Califórnia foi suficiente para viver a cultura do desperdício. Pratos, pratinhos, pratões, bowls, talheres, copos, tampas de copos, canudinhos, saquinhos, sacões, garrafas plásticas... tudo é consumido e vai para o lixo num piscar de olhos. E pior, as embalagens são tão bonitas, algumas feitas com material reciclável, que dá vontade de guardar e usar de novo.
Eu não estava a fim de entrar no esquema “pegue-pague, consuma-jogue fora”, nem almoçar andando com um sanduba na mão, então resolvi sentar em uma lanchonete e tomar um milkshake, esperando que ele viesse no tradicional copo de vidro. Que nada! Veio em copo gigante de plástico, canudinho e uma baita tampa inútil estilo Os Jetsons. É difícil fugir do fast food. Existem alguns cafés onde você pode usar a sua própria caneca e ainda ganha desconto de 50 centavos de dólar, mas eles são raros de achar. Enfim, conclusão do GreenShort Stories sobre os Estados Unidos: ruas limpas, latas de lixo (lixo?) cheias.

Em Bali, as flores estão por todos os cantos. Enfeitam os templos, o cabelo das mulheres, as mesas dos restaurantes, as calçadas. Num pequeno pratinho feito de folha de coqueiro, flores, incenso, grãos de arroz e algumas comidinhas compõem um belo arranjo oferecido aos deuses. Milhares de oferendas se espalham pelas vilas e cidades todo santo dia. Depois, elas são varridas para o canto, jogadas no rio ao lado ou deixadas por lá. O mesmo acontece com as embalagens de comida: tigela feita de folha de bananeira dobrada e presa por palitinhos de bambu para o caldinho da comida não escorrer, saquinho feito de trama de folha de coqueiro com arroz cozido dentro... uma vez usados, vão pro chão. De acordo com a crença hindu, os deuses (ou seja, a natureza) se encarregam de dar um jeito no que não será mais usado. E isso, de fato, acontece. O que é da natureza, é absorvido por ela.
Mas quando o plástico e outros produtos artificiais entram em cena, a crença hindu fica obsoleta. Ninguém ensinou o balinês que o plástico não vai se decompor? Acho que a educação ambiental ainda não chegou pelas bandas de cá. Vá a uma das belas cachoeiras ou a um dos inúmeros rios de Bali pra ver que tristeza de sujeira. O povo amigo e devoto de Bali não foi informado de que os deuses não estão dando conta do recado.

13 de fev. de 2009

O outro lado do paraíso

Visitar Bali era um sonho antigo, era a imagem do paraíso: campos de arroz verdinhos, praias de águas cristalinas, ondas perfeitas (e surfistas), flores coloridas, templos hindus e um povo pacífico e espiritualizado.
No meu aniversário de 32, na Califórnia, ganhei de presente do Dudu um guia sobre Bali, de segunda mão e em perfeito estado – The natural guide to Bali - enjoy nature, meet the people, make a diference (ed Equinox), escrito por ecologistas e antropóplogos, com colaboração de jornalistas, sociólogos e artistas balineses que amam sua ilha mas tem lá um olhar crítico sobre Bali. O livro me conectou definitivamente com a Ilha dos Deuses ao trazer informações sobre lojas que praticam comércio justo, mercadinhos e restaurantes com produtos locais e orgânicos, fundações e cooperativas que apoiam as comunidades, etc, com um texto bem humorado e fluido como uma boa conversa (e que nenhum Lonely Planet tem). O guia perfeito para uma jornalista viajante em busca de histórias sobre sustentabilidde.
O texto sobre pirataria - Copyright or right to copy? - fala das marca de bolsas Guci, relógios Relex e câmeras Nilkon que vamos encontrar pelas ruas da muvucada Kuta. O guia explica que o balinês é artista por exelência porque faz arte para os deuses, mas o boom de artesãos tem arruinado a agricultura e a cultura local. O artesanato gera, por ano, U$ 1,5 bilhões e isso explica porque muitos pequenos agricultores trocaram de profissão e venderam suas terras para financiar uma lojinha de artesanato nos centros turísticos. Já viu um porta CD em forma de gato e pintado com cores vibrantes Made In Bali? Pois é um bom exemplo da massificação e distorção da arte, alimentada pela demanda nervosa dos centros consumidores mundiais. Um viajante atento a essas questões vai se deliciar com o Natural Guide ao ler sobre a importância do comércio justo em lugares tão explorados como Bali.
Daí, já ligado no movimento do lugar, você pode seguir a recomendação do guia de que a melhor parte da viagem é quando as coisas não acontencem como o planejado. Get lost!

31 de jan. de 2009

Sementes da mundança


Cada semente tem uma longa e intricada história. Elas passam por mãos humanas, são cultivadas por nós, selecionadas por nós e atravessam oceanos e continentes para serem reproduzidas e comercializadas. As vezes, são salvas da extinção no último minuto, mas também se desaparecem para sempre da face da terra. Acredite: esses minúsculos milagres são as verdadeiras vozes dos ancestrais manifestando-se em cada uma dessas sementes. Tão importante quanto plantar o próprio alimento – frutas, verduras, legumes, nozes – é vital preservar para a manter a diversidade nos campos, um dos pilares da cultura de sustentabilidade.

Ainda em San Francisco, na casa dos Dowson, folheei um baita livrão sobre os percursos e desvios da agricultura atual. Cada capítulo tratava de um alimento e a foto da primeira página mostrava os vários tipos existentes de cada produto. Batatas redondas, pequeninas, amarelas, roxas, pontudas, ovaladas, marrons; tomates com cara de caqui, de mini beringelas, verdes, laranjas, miúdos, de várias formas, cores e tamanhos. Assim vieram alfaces, cenouras, abobrinhas, etc. E eu, na minha experiência urbana, fiquei surpresa e feliz ao ver tamanha variedade de frutos (e confesso que não imaginava que eles existiam). E, de fato, não existem mais mesmo. Essa fartura, essa diversidade foi se minguando com o tempo, no tempo da Monstanto! É só ir ao mercado pra NÃO ve-los la. Na gôndola de legumes do Safeway (que ironia o nome), uma rede gigante de supermercados nos EUA, me deparei com quatro mirrados tipos de batata, três de tomate e dois de alface.
Que sensação estranha de pasteurização, de que perdemos muito da diversidade da terra e de seus frutos. E isso cheira à homogeneização de pensamento, de atitude, de expressão, me soa como enfraquecimento do corpo, da mente e da alma.

Em 1922, o cientista espiritualista Rudolf Steiner, criador da Antroposofia, falou, lindamente, sobre a relacao entre a qualidade do que comemos com a nossa saúde espiritual. A fala veio em resposta a uma angustiada pergunta de um dos demais cientistas da platéia. A conversa foi mais ou menos assim: “Como o impulso espiritual e especialmente o aprendizado interno, para os quais nós estamos constantemente nos guiando e provendo estímulo, produzem frutos tão pequenos? Por que pessoas tão esforácdas (nesse caminho) manifestam tão pouca evidência de suas experiências espirituais, apesar de todos os seus esforços?”.Eu estava especialmente ansioso por uma resposta sobre como alguém poderia ter um envolvimento espiritual constante e realizá-lo sem ter conseguido vencer a ambição pessoal, as ilusões e a desconfiança, qualidades negativas as quais Rudolf Steiner nomeou como os principais obstáculos internos.”
Veio então o pensamento provocador e a surpreendente resposta de Steiner: “Esse é um problema de nutrição. Nutrição como ela é hoje não fornece a força necessária para a manifestação do espírito na vida física. A ponte não consegue ser erguida a partir do pensamento em direção à vontade e ação. Os alimentos que vêm da terra não contém mais as forças que as pessoas precisam para isso”.

A agricultura corporativa e em larga escala põe em risco a diversidade biológica ao conceder às grandes empresas produtoras de sementes o direto de patentear sementes. No entanto, pequenos fazendeiros locais, que preservaram algumas sementes e rejeitaram outras, modificando assim as espécies das plantas que conhecemos hoje,não são protegidos nem ao menos compensados pelo trabalho de anos a fio.

Resistência é fértil. Espalhe as sementes!

26 de jan. de 2009

O silencio

Oi pessoal,
motivo do breve desaparecimento eh que acabei de sair de um retiro de ioga e meditacao, repleto de boas atividades, de silencio e muitos insights num lugar super especial, onde se vive em comunidade, se planta comida e se cultiva a paz e o amor. Volto logo logo com mais novidades. E adianto uma, bem instigante: acabei de comprar a passagem pra Bali. Ihuuuu!

18 de jan. de 2009

Limpeza na trilha

Nos últimos 6 dias, eu e Dudu viajamos pela Queen Charlotte Track, uma trilha de 71 km na região de Picton, porto de chegada na Ilha do Sul da Nova Zelândia. A península é belíssima, com montanhas pontudas que avançam para o mar esmeralda, árvores nativas – samambaias e manuka, que dá um mel delicioso – e centanas de wakis, um tipo de galinha do mato.
Partimos de Picton num aqua taxi que nos deixou no começo da trilha. Nas costas, barraca, sacos de dormir, uma muda de roupa, comida para 4 dias. Um peso danado! Depois de looongos 28 km em um dia, descobrimos que as agências de aqua taxi levariam nossa bagagem de um ponto a outro da trilha por 16 dólares cada (achei bem salgadinho).
Mesmo tendo que pagar por cada item extra, a boa infra-estrutura do turismo nos impressionou: ligações gratuitas para agências, banheiros e áreas de descanso por todo o percurso e NENHUMA LATA DE LIXO! A mão-de-obra é realmente escassa na Nova Zê e não tem nenhum Zé Colméia para catar seu lixo. Além do mais, sentir o peso e o cheirinho dos seus restos testa a força de vontade e a responsabilidade do ecoturista com o meio que ele desfruta. E parece que funciona: não vi nada além de folhas, flores e cogumelos vermelhos pelas matas da Queen Charlotte.
Nos últimos 20 km da trilha, demos de frente com um conteiner imenso de lixo. Por dois dólares, nos livramos da nossa sacolinha plástica e pudemos seguir viagem até Picton de caiaque. Ser sustentável tem seu peso (e seu preço) e vale muito a pena!

10 de jan. de 2009

Voto para antroposofia

Um dos temas que me guiam antes e durante a viagem é a antroposofia, ciência espiritualista criada por Rudolf Steiner que compreende um sistema completo de qualidade de vida: agircultura Bio-dinâmica, pedagogia Waldorf e medicina. Meu médico é antroposófico. Além de medicamentos poderosos feitos com ervas e minerais, ele me alerta que uma certa dor muscular também representa medo por alguma situação futura. Bingo! É sempre muito gratificante receber essa orientação no caminho da consciência corporal e emocional. Para mim, é uma poderosa via de libertação e é por essas e outras que o movimento antroposófico precisa crescer e aparecer.

A indústria farmacêutica e cosmética européia, temorosa pelo crescente interesse na antroposofia, está fazendo o maior lobbie para boicotar as atividades antroposóficas. Novas regulamentações previstas para 2009 querem suprimir a venda legal de medicamentos antroposóficos e já se fala em incluir a agricultura biodinâmica, pedagogia Waldorf e a pedagogia curativa na comunidade européia.

O Movimento ELIANT - European Alliance of Inititives for Applied Anthroposophy - sustenta o movimento internacional pelo respeito à liberdade em matéria de alimentação, saúde e pegagogia antroposófica. Para não permitir que a antroposofia caia na clandestinidade, é preciso recolher UM MILHÃO DE ASSINATURAS para reconhecer essa ação de apoio e fortalecimento. Clique aqui para fazer a diferença. Para ler em português, clique na bandeira de Portugal. Vamos lá pessoal!

1 de jan. de 2009

Casa de terra


Num domingo de sol na amigável (e minúscula) Coromandel, no norte de Aoteaora (Nova Zelândia em maori), Henery e Rachel organizaram um workshop sobre earthbulding - casa feita de terra. Você já deve ter visto casas de pau-a-pique, de taipa ou adobe pelo interiorzão e litoral do Brasil, principalmente em lugares quentes. Via de regra, é casa de índio, casa de caiçara, casa de pobre. E é também a casa de Henery e Rachel. O simpático casal usou a técnica do adobe para subir as paredes da própria morada - ampla, fresca e arejada e com formas orgânicas. Arquitetura de Gaudí!

A massa é feita com terra, jornal molhado e macerado, palha, água e cimento (opcional). Mistura tudo na betoneira ou no braço (e da-lhe chamar a rapaziada) e tá pronta para ser enformada, no molde que você bem quiser. É pá-pum! Em dia seco e ensolarado, leva uns 20 minutos pro tijolo secar e receber uma nova camada por cima.
Nesse domingo, fizemos uma cama para o jardim comunitário de Coromandel e todo mundo colocou a mão na massa, desde o preparo da terra até a decoração, com cacos de cerâmica. Foi uma delícia de experiência, a criançada se envolveu e se divertiu do começo ao fim, o jardim ficou mais bonito e eu saí com a certeza de que meu próximo cafofo vai ter cara, gosto e cheiro de terra.