31 de jan. de 2009

Sementes da mundança


Cada semente tem uma longa e intricada história. Elas passam por mãos humanas, são cultivadas por nós, selecionadas por nós e atravessam oceanos e continentes para serem reproduzidas e comercializadas. As vezes, são salvas da extinção no último minuto, mas também se desaparecem para sempre da face da terra. Acredite: esses minúsculos milagres são as verdadeiras vozes dos ancestrais manifestando-se em cada uma dessas sementes. Tão importante quanto plantar o próprio alimento – frutas, verduras, legumes, nozes – é vital preservar para a manter a diversidade nos campos, um dos pilares da cultura de sustentabilidade.

Ainda em San Francisco, na casa dos Dowson, folheei um baita livrão sobre os percursos e desvios da agricultura atual. Cada capítulo tratava de um alimento e a foto da primeira página mostrava os vários tipos existentes de cada produto. Batatas redondas, pequeninas, amarelas, roxas, pontudas, ovaladas, marrons; tomates com cara de caqui, de mini beringelas, verdes, laranjas, miúdos, de várias formas, cores e tamanhos. Assim vieram alfaces, cenouras, abobrinhas, etc. E eu, na minha experiência urbana, fiquei surpresa e feliz ao ver tamanha variedade de frutos (e confesso que não imaginava que eles existiam). E, de fato, não existem mais mesmo. Essa fartura, essa diversidade foi se minguando com o tempo, no tempo da Monstanto! É só ir ao mercado pra NÃO ve-los la. Na gôndola de legumes do Safeway (que ironia o nome), uma rede gigante de supermercados nos EUA, me deparei com quatro mirrados tipos de batata, três de tomate e dois de alface.
Que sensação estranha de pasteurização, de que perdemos muito da diversidade da terra e de seus frutos. E isso cheira à homogeneização de pensamento, de atitude, de expressão, me soa como enfraquecimento do corpo, da mente e da alma.

Em 1922, o cientista espiritualista Rudolf Steiner, criador da Antroposofia, falou, lindamente, sobre a relacao entre a qualidade do que comemos com a nossa saúde espiritual. A fala veio em resposta a uma angustiada pergunta de um dos demais cientistas da platéia. A conversa foi mais ou menos assim: “Como o impulso espiritual e especialmente o aprendizado interno, para os quais nós estamos constantemente nos guiando e provendo estímulo, produzem frutos tão pequenos? Por que pessoas tão esforácdas (nesse caminho) manifestam tão pouca evidência de suas experiências espirituais, apesar de todos os seus esforços?”.Eu estava especialmente ansioso por uma resposta sobre como alguém poderia ter um envolvimento espiritual constante e realizá-lo sem ter conseguido vencer a ambição pessoal, as ilusões e a desconfiança, qualidades negativas as quais Rudolf Steiner nomeou como os principais obstáculos internos.”
Veio então o pensamento provocador e a surpreendente resposta de Steiner: “Esse é um problema de nutrição. Nutrição como ela é hoje não fornece a força necessária para a manifestação do espírito na vida física. A ponte não consegue ser erguida a partir do pensamento em direção à vontade e ação. Os alimentos que vêm da terra não contém mais as forças que as pessoas precisam para isso”.

A agricultura corporativa e em larga escala põe em risco a diversidade biológica ao conceder às grandes empresas produtoras de sementes o direto de patentear sementes. No entanto, pequenos fazendeiros locais, que preservaram algumas sementes e rejeitaram outras, modificando assim as espécies das plantas que conhecemos hoje,não são protegidos nem ao menos compensados pelo trabalho de anos a fio.

Resistência é fértil. Espalhe as sementes!

26 de jan. de 2009

O silencio

Oi pessoal,
motivo do breve desaparecimento eh que acabei de sair de um retiro de ioga e meditacao, repleto de boas atividades, de silencio e muitos insights num lugar super especial, onde se vive em comunidade, se planta comida e se cultiva a paz e o amor. Volto logo logo com mais novidades. E adianto uma, bem instigante: acabei de comprar a passagem pra Bali. Ihuuuu!

18 de jan. de 2009

Limpeza na trilha

Nos últimos 6 dias, eu e Dudu viajamos pela Queen Charlotte Track, uma trilha de 71 km na região de Picton, porto de chegada na Ilha do Sul da Nova Zelândia. A península é belíssima, com montanhas pontudas que avançam para o mar esmeralda, árvores nativas – samambaias e manuka, que dá um mel delicioso – e centanas de wakis, um tipo de galinha do mato.
Partimos de Picton num aqua taxi que nos deixou no começo da trilha. Nas costas, barraca, sacos de dormir, uma muda de roupa, comida para 4 dias. Um peso danado! Depois de looongos 28 km em um dia, descobrimos que as agências de aqua taxi levariam nossa bagagem de um ponto a outro da trilha por 16 dólares cada (achei bem salgadinho).
Mesmo tendo que pagar por cada item extra, a boa infra-estrutura do turismo nos impressionou: ligações gratuitas para agências, banheiros e áreas de descanso por todo o percurso e NENHUMA LATA DE LIXO! A mão-de-obra é realmente escassa na Nova Zê e não tem nenhum Zé Colméia para catar seu lixo. Além do mais, sentir o peso e o cheirinho dos seus restos testa a força de vontade e a responsabilidade do ecoturista com o meio que ele desfruta. E parece que funciona: não vi nada além de folhas, flores e cogumelos vermelhos pelas matas da Queen Charlotte.
Nos últimos 20 km da trilha, demos de frente com um conteiner imenso de lixo. Por dois dólares, nos livramos da nossa sacolinha plástica e pudemos seguir viagem até Picton de caiaque. Ser sustentável tem seu peso (e seu preço) e vale muito a pena!

10 de jan. de 2009

Voto para antroposofia

Um dos temas que me guiam antes e durante a viagem é a antroposofia, ciência espiritualista criada por Rudolf Steiner que compreende um sistema completo de qualidade de vida: agircultura Bio-dinâmica, pedagogia Waldorf e medicina. Meu médico é antroposófico. Além de medicamentos poderosos feitos com ervas e minerais, ele me alerta que uma certa dor muscular também representa medo por alguma situação futura. Bingo! É sempre muito gratificante receber essa orientação no caminho da consciência corporal e emocional. Para mim, é uma poderosa via de libertação e é por essas e outras que o movimento antroposófico precisa crescer e aparecer.

A indústria farmacêutica e cosmética européia, temorosa pelo crescente interesse na antroposofia, está fazendo o maior lobbie para boicotar as atividades antroposóficas. Novas regulamentações previstas para 2009 querem suprimir a venda legal de medicamentos antroposóficos e já se fala em incluir a agricultura biodinâmica, pedagogia Waldorf e a pedagogia curativa na comunidade européia.

O Movimento ELIANT - European Alliance of Inititives for Applied Anthroposophy - sustenta o movimento internacional pelo respeito à liberdade em matéria de alimentação, saúde e pegagogia antroposófica. Para não permitir que a antroposofia caia na clandestinidade, é preciso recolher UM MILHÃO DE ASSINATURAS para reconhecer essa ação de apoio e fortalecimento. Clique aqui para fazer a diferença. Para ler em português, clique na bandeira de Portugal. Vamos lá pessoal!

1 de jan. de 2009

Casa de terra


Num domingo de sol na amigável (e minúscula) Coromandel, no norte de Aoteaora (Nova Zelândia em maori), Henery e Rachel organizaram um workshop sobre earthbulding - casa feita de terra. Você já deve ter visto casas de pau-a-pique, de taipa ou adobe pelo interiorzão e litoral do Brasil, principalmente em lugares quentes. Via de regra, é casa de índio, casa de caiçara, casa de pobre. E é também a casa de Henery e Rachel. O simpático casal usou a técnica do adobe para subir as paredes da própria morada - ampla, fresca e arejada e com formas orgânicas. Arquitetura de Gaudí!

A massa é feita com terra, jornal molhado e macerado, palha, água e cimento (opcional). Mistura tudo na betoneira ou no braço (e da-lhe chamar a rapaziada) e tá pronta para ser enformada, no molde que você bem quiser. É pá-pum! Em dia seco e ensolarado, leva uns 20 minutos pro tijolo secar e receber uma nova camada por cima.
Nesse domingo, fizemos uma cama para o jardim comunitário de Coromandel e todo mundo colocou a mão na massa, desde o preparo da terra até a decoração, com cacos de cerâmica. Foi uma delícia de experiência, a criançada se envolveu e se divertiu do começo ao fim, o jardim ficou mais bonito e eu saí com a certeza de que meu próximo cafofo vai ter cara, gosto e cheiro de terra.