Viajar para lugares tão distintos como Estados Unidos, Nova Zelândia e Indonésia é, de fato, um baita choque cultural, principalmente em relação aos temas de sustentabilidade. Minha primeira semana na Califórnia foi suficiente para viver a cultura do desperdício. Pratos, pratinhos, pratões, bowls, talheres, copos, tampas de copos, canudinhos, saquinhos, sacões, garrafas plásticas... tudo é consumido e vai para o lixo num piscar de olhos. E pior, as embalagens são tão bonitas, algumas feitas com material reciclável, que dá vontade de guardar e usar de novo.
Eu não estava a fim de entrar no esquema “pegue-pague, consuma-jogue fora”, nem almoçar andando com um sanduba na mão, então resolvi sentar em uma lanchonete e tomar um milkshake, esperando que ele viesse no tradicional copo de vidro. Que nada! Veio em copo gigante de plástico, canudinho e uma baita tampa inútil estilo Os Jetsons. É difícil fugir do fast food. Existem alguns cafés onde você pode usar a sua própria caneca e ainda ganha desconto de 50 centavos de dólar, mas eles são raros de achar. Enfim, conclusão do GreenShort Stories sobre os Estados Unidos: ruas limpas, latas de lixo (lixo?) cheias.
Em Bali, as flores estão por todos os cantos. Enfeitam os templos, o cabelo das mulheres, as mesas dos restaurantes, as calçadas. Num pequeno pratinho feito de folha de coqueiro, flores, incenso, grãos de arroz e algumas comidinhas compõem um belo arranjo oferecido aos deuses. Milhares de oferendas se espalham pelas vilas e cidades todo santo dia. Depois, elas são varridas para o canto, jogadas no rio ao lado ou deixadas por lá. O mesmo acontece com as embalagens de comida: tigela feita de folha de bananeira dobrada e presa por palitinhos de bambu para o caldinho da comida não escorrer, saquinho feito de trama de folha de coqueiro com arroz cozido dentro... uma vez usados, vão pro chão. De acordo com a crença hindu, os deuses (ou seja, a natureza) se encarregam de dar um jeito no que não será mais usado. E isso, de fato, acontece. O que é da natureza, é absorvido por ela.
Mas quando o plástico e outros produtos artificiais entram em cena, a crença hindu fica obsoleta. Ninguém ensinou o balinês que o plástico não vai se decompor? Acho que a educação ambiental ainda não chegou pelas bandas de cá. Vá a uma das belas cachoeiras ou a um dos inúmeros rios de Bali pra ver que tristeza de sujeira. O povo amigo e devoto de Bali não foi informado de que os deuses não estão dando conta do recado.