
Meu sangue árabe borbulhou diante de tanto tecido nos mercados tradicionais de Bali (toda cidade tem um). Essas obras de arte estão em todos os cantos: pendurados na frente das “lujinhas”, empilhados nas mesas, enrolados nos corpos dos balineses. Em indonésio, mercado eh “pasar” e vem do árabe baazar. Empolgada por estar na terra do Batik (estampa feita com cera e aquarela) e do Ikat (tecido feito com fios desenhados e tingidos artesanalmente), meu impulso era sair comprando, comprando, e a preço de banana. Foi quando, subindo uma das ruelas de Ubud, conheci a Threads of Life – fios da vida – uma organização metade gringa, metade balinesa, que apóia a continuidade da tradição da arte têxtil indonésia.
Em seus motivos e usos cerimoniais, os tecidos têm significados profundos que sustentam a cultura do povo através dos séculos. O batik balinês celebra as cores e flores da Ilha dos Deuses. O batik de Java é repleto de padrões geométricos que refletem a influência árabe e fazem bonito nas cerimonias. O ikat duplo é a coisa mais intricada e intrigante que eu já vi - leva mais de um ano pra ser feito e é usado em rituais super importantes, como casamento e dote da mocinha. A tradição têxtil molda a vida das pessoas, dá prestígio e identidade a uma vila.
Na Treads você aprende como o Ikat é feito, enche os olhos com tecidos de várias partes do pais e encontra pessoas que celebram a sabedoria indígena, o senso de comunidade e de pertencimento ao lugar de origem e estão a fim de ajudar a manter o espírito das artes têxtis da Indonésia. Adivinha se eu não bati cartão por lá?
